quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Jazz for the quiet times

Três coisas:
A primeira é um presente para os leitores do site. Indicada por meu amigo Deco, essa é quase toda a discografia do Dave. Segundo o Deco, editor também da revista Batera e Percussão: "isso é um tesouro... se você ouvir alguns desses CD´s, terá uma senhora aula de jazz".
http://davebrubeck.blogspot.com/

Segunda coisa:
Segundo o Alê Duarte: "Esse que é o mais foda de jazz"
http://orgyinrhythm.blogspot.com/

Terceira:
Programa editado pelo Alê.
http://www.radiolaurbana.com.br/index.asp?Fuseaction=Conteudo&ParentID=9&Menu=16&Materia=1732

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Rio de Janeiro a la Nelson Rodrigues


Logo que pisou ali pela primeira vez, tudo que pensou foi: como é doce a frente daquela casa. Agora, sem entender por que, sua vida parecia ter sentido. Aquela praça com dois banquinhos o encantava. Pensou de pronto que precisava fazer parte daquele lugar.

O namoro entre Theodoro e Dorinha era tido como um típico casinho. Nada demais e nada de menos. Mas o que realmente o fazia suspirar era como era verde aquela grama, como aqueles bancos o intimidavam a ser feliz, como o vendedor de algodão doce estava sempre presente, e sorrindo. Lugar como aquele era tão precioso que seria impossível tal vendedor não estar lá. Se necessário, Theodoro iria buscá-lo onde quer que fosse para completar o cenário.

Dorinha nunca entendeu por que o namorado nunca a levou em sua casa, muito menos o motivo dele não desejar conhecer nada além daquela praça. Pois lá os pássaros cantavam e vez ou outra ele via um esquilo correndo. Ninguém acreditava, mas ele podia jurar que o esquilo até o olhou no olho uma vez.

Até seu namoro com Dorinha, que não tinha nada de especial, começou a ter. Na praça ele sentia vontade de exaltá-la, de fazê-la a mulher mais feliz do mundo, lá ele podia brigar por ciúmes, imaginar grandes adultérios, sofrer pelo amor da pequena. Lá ele esperava pacientemente sua musa se trocar, arrumar o cabelo e delicadamente se maquiar. Dava para ver da fresta da janela seus singelos movimentos. Ah, como era encantador.

Theodoro não tinha mais dúvidas, lá o mundo era justo! Na tal pracinha, entre juras de amor inspiradas na vermelhidão do algodão doce e no cantar dos pássaros, o rapaz pediu inconscientemente a mão de Dorinha em casamento. Radiante, a moça começou a pensar nos preparativos. Procurou o melhor vestido, a melhor igreja, tudo de melhor. Quando foi conversar com o pai da noiva, Theodoro se depara com o grande presente do sogro: um sobrado novinho em Copacabana. O pai de Dorinha não queria economizar para a felicidade da filha.

Mas Copacabana? Por que Copacabana?

A tal praça ficava na Urca. Cercada por toda a natureza possível, em frente à casa de Dorinha.

- Não, eu não posso morar lá, disse o moço desesperado.
- Mas, rapaz - disse zangado o pai de Dorinha -, tudo o que vocês precisam está lá. Tudo.

Theodoro baixou a cabeça e rumou sozinho para a praça. Não era justo. Analisando friamente chegou a conclusão que Dorinha era uma estranha para ele. Ela simplesmente sorria catatonicamente enquanto ele fantasiava uma história com um fundo perfeito. Ela nunca realmente estivera lá. E todas aquelas roupas e jóias a lá Audrey Hepburn, e o sorriso enigmático de Monalisa, os cabelos de Catherine Deneuve. Tudo aquilo era pura ilusão. Faziam só parte da praça. Porque, afinal, tudo ficava mais bonito lá.

Chegou a conclusão que não iria em frente com o casamento. Não. Não era justo. Falou ao telefone que queria comunicar algo sério a ela. Pelo tom de voz, Dorinha viu que o noivo não estava bem e logo percebeu o que ocorrera. Foi ao seu encontro na praça. Ouviu quieta a resolução de Theodoro, apenas uma lágrima caiu em seu olho. Olhou fixamente para o ex-noivo, sacou uma arma e atirou.

Ele não tinha o direito de terminar assim com o seu sonho. A bala foi em cheio no pulmão de Theodoro. Aos poucos sua respiração foi fraquejando. As cores se apagando. Mas ele conseguiu manter um olho aberto; quando reparou na grama... lá estava o esquilo, olhando para ele. Theodoro morreu sorrindo.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Experiência etílica, lisérgica ou transcedental?



Trouxe muita curiosidade do meu assíduo público (hahaha) o porquê da palavra 'lisérgica' no meu ano novo. Não, eu não encontrei nenhuma plantação de cogumelo e muito menos ácido em Noronha...
Os entorpecentes eram todos legais - de legalidade - (dependendo do país), mas a questão é: com pouco já se vivia uma experiência lisérgica naquele lugar.

Visualiza: Hora de filmar os fogos de artifício, ou seja meia noite, fogos filmados, abraço na 'equipe', champagne quente na mão, champagne quente na boca, opa... já acabou a champagne quente? Que coisa! Fomos então ver o show do Cordel com uma garrafa de whisky, sem rocks porque não tinha onde colocar gelo. Camarim... olha... mais whisky e... cerveja gelada... Que maravilha. Logo depois... sei lá como eu fui parar em uma praia (precisa dizer que era paradisíaca?). A tal praia do Boldró tinha uma festa lisérgica, com adolescentes consumindo balas. Ficamos só perto deles, ouvindo aquela música horrível. Olha só, uma garrafa de vodka. Que maravilha! Logo mais em frente, vivencio cenas que eu nunca consegui linkar na minha cabeça. Eu em um vestido branco com rosas vermelhas bem campestre, correndo pela praia... indo em direção ao mar que queria (juro!) me engolir pra sempre. Mas no meio do caminho encontro mais uma garrafa de whisky. Ai, meu estômago... Continuo correndo... feliz... brincando com o mar como se estivesse soprando dentro de uma jarra de milk shake. Milk shake cor de anis. Ah, que natureza linda...

Até que me deparo com a cena mais surreal da minha vida. Um cachorro dormindo no mar (veja acima). Por momentos imagino que ele está no meio do milk shake, retomo a consciência... O que esse cachorro está fazendo dormindo no mar? Será que ele está flutuando? Os fogos tornaram-se espaçados, mas ele continuava lá. Até que eu ouço o pensamento dele. Juro. E ele pensa, com os olhinhos fechados e apertados.

- Eu precisava sair dessa ilha. Porque fora dela há luzes coloridas que estouram.

E essa foi a primeira vez que cruzei com um cachorro platônico.

ps: crédito da 'viagem': Mito da caverna de Platão.

Primeira Parada: Fernando de Noronha



Imagine se a ilha de Lost fosse no Caribe, e se em vez de 200 pessoas, tivessem 2 mil, imagine que os Outros não existissem e que golfinhos, tubarões e tartarugas mandassem na ilha. Agora imagine o pôr-do-Sol mais bonito que vc pode pensar. Sim... tudo isso é Noronha. A cidade ilhada. Perdida no meio do Atlântico.

O que chama muita atenção é a força da comunidade. Logo que chegamos lá, com uma câmera embaixo dos braços, a dona da pousada alerta: "Vocês podem não conhecer as pessoas, mas todas elas já sabem o que vocês vieram fazer aqui". Isso me deu um certo medo. Parecia mesmo o Jacob de Lost.

Outro fato inusitado é que eles não gostam muito da cultura das outras cidades. Eles têm um movimento não tão forte cultural, mas forte o suficiente para manter toda aquela mistura trazida de presos, pernambucanos, turistas estrangeiros que fizeram a ilha. E eles mantém. Uma moradora me confirma entusiasmada. "Estamos construindo o primeiro estúdio para gravarmos o disco do maracatu". Bandas de outra cidade são aceitas, mas escuto sobre o show do Cordel do Fogo Encantado: "Eles são bons, mas quem botou pra quebrar mesmo foi a nossa banda local."

Senti medo dos buggys da cidade. Pra quem não sabe, não existem carros lá. Só buggys. Até os taxis parecem ser de crianças. Eles dão medo porque a cidade obviamente não é asfaltada, então tudo pula. Tudo mesmo. E não adianta fazer chapinha, progressiva, escova, nada. Seu cabelo vai ficar feio no final do dia. Mas vale a pena.

Coisas impossíveis de achar:
laranja (a fruta) - me disseram que era pq laranja estraga fácil, e como elas vem de navio, estragam no caminho.
Loja de cd: eu pelo menos não achei. Incluindo livros, discos e cafés.
Lojas de roupas: Lá não tem um centrinho comercial... Rooooupa só numas botiques caras e no Projeto Tamar (mais caro ainda).
Cigarro a 3,10: maior sacanagem. Paguei R$5 o maço!!!!
Coca Light: Inferno de Coca Zero! Humpf

Ps: Primeira parte sobre Noronha. Em breve mais textos, incluindo a passagem do ano lisérgica na praia.